Helena Morais Cardoso
Como gerir e enfrentar as "noites escuras da alma" e que tesouros retiramos das crises internas
Falo muito das tempestades da vida. Das noites escuras da alma. Da falta de fé. Da sombra. Das nossas profundidades que têm o cheiro da morte.
Falo muito delas porque as conheço bem, vivo-as muitas, sou mulher cíclica e com uma psique de raiz meio melancólica, então a cada par de anos (ou meses) lá vou eu espiral abaixo reencontrar-me com a minha dor, com os meus lutos, com os meus imperdões, com as minhas raivas e/ou com as minhas mágoas.
A minha consciência até está em paz com estas viagens, e acha isto normal, até porque foram muito anos a "meter para dentro", muitos anos a guardar "na cave" tudo aquilo que eu não me permitia sentir. E mesmo que não fosse esse o motivo, a verdade é que a vida no presente tem formas de activar feridas ancoradas bem lá atrás no nosso passado, e que nos enviam automaticamente espiral abaixo.
Mas o meu coração não entende esta coisa de ser racional e de perceber que faz parte do caminho estas viagens à "cave" da nossa psique".
E o meu corpo também não.
A tensão, a ansiedade, o medo petrificante, a solidão, a dor psíquica que se materializa no corpo.
Nestas fases as emoções e as dores são demasiado profundas para tentar entender com a cabeça e para as justificar ou contra-argumentar.
E é precisamente nesta fase que eu quase "quebro", que enlouqueço com a dor e que quero sair de mim para que tudo acabe - é nesta fase que eu odeio o processo.
O problema é que a dor não me obedece, então não me resta alternativa senão vergar-me ao processo.
É aqui que eu me RENDO, que me jogo escada abaixo e vou na espiral. Entrego-me à emoção, vou profundamente em direcção à minha "cave" e faço o melhor que sei para curar o que precisa de ser curado: é aqui e que choro sem motivos, que falo comigo, que escrevo paginas e paginas de textos com ou sem sentido, é aqui que grito e danço freneticamente, é aqui me abraço e peço desculpa, é aqui que me sento para "conversar" com os meus demónios.
E muitas e tantas vezes, é aqui que permaneço, no abismo da minha alma, sem nada fazer.
Como muitas vezes nada daquilo que faço resulta para que a "crise" passe eu criei algumas âncoras que me trazem confiança de que eu vou sobreviver a tal descida à "cave". Uma das minhas âncoras é a do parto, simbolicamente eu associo estes momentos a partos, só que neste cenário eu estou a parir-me a mim mesma. Acredito nesta simbologia porque o que sinto nestes momentos é que há algo em mim que já morreu e há algo novo que eu preciso de parir, é só uma transição, são só dores de parto. Nestas alturas repito muitas vezes para mim mesma: "é só dor de parto, confia". É como se me dissesse a mim mesma, que eu estou preparada para esta descida, assim como fui feita para parir também fui feita para descer à "cave", e de lá regressar com algo recém-nascido. Muitas vezes a recém nascida nesta metáfora sou eu.
Escrevo este post para que saibas que não estás sozinha nestas tuas "descidas à cave". Todos temos momentos na vida em que se abrem portas de acesso para as nossas caves, mas uma coisa te digo: só os corajosos a atravessam.
A descida é desafiante e sofrida, mas a consciência, o auto-conhecimento e a maturidade emocional que ganhamos em descer à nossa cave faz perceber que esta dor inerente à descida faz parte da viagem.
A descida é aquilo que nos fará conhecer mais um "andar" no piso superior da nossa psique, portanto respira e diz comigo: "TAMBÉM ISTO PASSARÁ"
Helena Morais Cardoso Terapeuta de AMOR-PRÓPRIO
